+++ title = "Decodificando o Protocolo FAST: Exemplos" date = 2022-01-12 [taxonomies] tags = ["finanças", "binário", "protocolo", "fix", "fast", "exemplos"] +++ Depois de toda a explicação sobre a definição do protocolo FAST, eu notei que tinha uma coisa faltando: Exemplos, para que fique mais fácil de entender. {% note() %} Mesmo aviso do post anterior: Como isso tudo é baseado na minha experiência pessoal, algumas coisas podem estar erradas. Eu tentei o meu melhor para deixar tudo correto, mas eu posso ter entendido alguma coisa errada, ou digitei errado aqui. Ainda, a medida que eu for encontrando casos que eu acredite sejam interessantes, novos exemplos serão adicionados. {% end %} # Hello World Este exemplo é basicamente o mesmo da [JetTek](https://jettekfix.com/education/fix-fast-tutorial/) mas é realmente simples de explicar, então vamos nós: ## Template ```xml ``` ## Dados de Entrada Bytes: ``` 1110_0000 1000_0001 0100_1000 0110_0101 0110_1100 0110_1100 0100_1111 0101_0111 0110_1111 0111_0010 0110_1100 1110_0100 ``` ## Processamento O primeiro byte é o Mapa de Presença. Removendo o bit de parada, temos `110_0000`. Esse Mapa de Presença tem um campo que não é descrito no template: O Template ID (ID de Template). Como o primeiro bit está ligado, nós sabemos que o ID está lá. Ainda, tenha em mente que o Template ID é o único campo que nós sabemos que existe até agora; não existe nenhuma outra informação sobre o que é aquele segundo bit no Mapa de Presença -- nós precisamos encontrar qual template vamos usar antes de mais nada. O próximo byte é lido: `1000_0001`. Como mencionado acima, isso é o Template ID. Sendo um inteiro sem sinal (e provavelmente mandatório, mas não me pergunte como isso funciona) e removendo o bit de parada, temos o inteiro "1", que é exatamente o mesmo ID que temos no nosso template; agora nós sabemos quais campos devem ser processados. O primeiro campo do template é uma string com um valor default. Como o campo usa o operador Default, nós precisamos verificar se o valor está presente nos dados de entrada ou se devemos usar esse valor default. O bit no Mapa de Presença para este campo é `1`, o que indica que a string está presente nos dados de entrada e que nós devemos lê-la. O campo é uma string, então vamos ler todos os bytes até encontrarmos um com o bit de parada. Ainda, sendo string, nós não precisamos "juntar" os bits: cada byte é uma letra da tabela ASCIII. A sequência é `100_10000` (72), `110_0101` (101), `110_1100` (108), `110_1100` (108), `100_1111` (79), `101_0111` (87), `110_1111` (79), `111_0010` (114), `110_1100` (108) e `110_0100` (100). Observe que nós consumimos todos os bites e o último tinha o bit de parada, então terminamos o pacote com a string. Convertendo os bytes usando a tabela ASCII, temos "HelloWorld". Assim, temos o resultado: Nós recebemos um registro do tipo "HelloWorld" cujo campo com ID "1" (chamado "String") tem o valor "HelloWorld". # Sequências Vamos expandir nosso exemplo adicionando uma sequência e alguns operadores: ## Template ```xml ``` Apesar do FAST ser criado para trabalhar com FIX e o mercado financeiro, não existe nada que iniba o mesmo de ser usado para outras coisas. O novo template descreve um group de usuários, então nós temos uma lista de grupos e, para cada grupo, uma lista de usuários e seus IDs. ## Dados de Entrada ``` 1100_0000 1000_0010 1000_0011 0000_0011 0010_0011 0001_1000 1110_0111 1000_0010 1100_0000 0101_0101 0111_0011 0110_0101 0111_0010 1011_0001 1000_0100 1000_0000 0101_0101 0111_0011 0110_0101 0111_0010 1011_0010 1111_1111 1000_0001 1100_0000 0101_0101 1011_0001 1111_1111 0000_1000 1000_0000 1000_0010 1100_0000 1100_1001 1011_0110 1000_0000 0100_1101 1110_0101 ``` ## Processamento Como mencionado anteriormente, o primeiro byte, `1100_0000` é o Mapa de Presença do elemento raiz. Existe apenas um bit ligado, o que indica que o Template ID está presente. Como o Template ID está presente no Mapa de Presença, nós lemos o próximo byte `1000_0010`. Como este byte tem o bit de parada, nós paramos de ler. Removendo este bit, nós temos `000_0010`, que é "2", e agora sabemos que estamos lidando com o template "SequenceOfSequences". Agora que temos o template e conhecemos os campos, nós sabemos o que precisamos ler. O primeiro campo do nosso template é uma sequência. A primeira coisa que nós temos em uma sequência (e é a primeira coisa em *todas* as sequências) é o tamanho desta. Assim, nós lemos o próximo byte, `1000_0011`, que é o único byte que precisamos ler. Ele representa um inteiro sem sinal, que é 3, então esta sequência tem 3 registros -- e usando nossa descrição anterior, nós sabemos que temos 3 grupos de usuários. Um ponto ser visto aqui: Como todos os campos desta sequência não tem qualquer operador, o Mapa de Presença não é necessário e, assim, ele não existe (ou, melhor, nós não devemos tentar ler alguma coisa e assumir que é o Mapa de Presença). Para sequências, o começo de cada registro contém um Mapa de Presença apenas se pelo menos um dos campos na sequência precisa do Mapa. O que não é o caso aqui. Como não há Mapa de Presença para a sequência "OuterSequence", os próximos bytes são o campo "GroupID". Nós devemos ler os bytes até encontrar o bit de parada; assim, recebemos `0000_0011`, `0010_0011`, `0001_1000` e `1110_0111`. Para cada byte nós removemos o bit de mais alta ordem (o bit de parada) e juntamos tudo em uma única coisa, neste caso, `00_0011 010_0011 001_1000 110_0111` ou simplesmente `0000_0110_1000_1100_1100_0110_0110`. Este valor, sendo um inteiro sem sinal, é "6868070". {% note() %} Aqui é um bom ponto para lembrar que, como o campo é mandatório, isto significa que este é realmente o valor para "GroupID"; se o campo fosse opcional, o valor de verdade seria "6868069". {% end %} Agora para o campo "InnerSequence". O primeiro passo é recuperar o número de elementos (o "length" da sequência). Esse é o byte `1000_0010`, que é 2. Assim, há dois usuários neste grupo. Como o "InnerSequence" tem um campo que precisa do Mapa de Presença ("ID" usa o operador Increment, o que indica que ou iremos ler o o valor vindo dos dados de entrada ou iremos incrementar o valor anterior), o primeiro byte depois do tamanho é o Mapa de Presença para este registro. O byte `1100_0000` indica que o primeiro campo que precisa do Mapa de Presença está presente. Mas ainda não é o momento de usar o Mapa de Presença. O campo logo após o tamanho é "Username", que é uma string mandatória. Strings mandatórias sem operadores estão sempre presentes e nós não precisamos olhar o Mapa de Presença. Assim como fizemos com "String" no exemplo anterior, nós lemos os bytes até encontrar um com o bit de parada, mas não juntamos os mesmos: `0101_0101` (85), `0111_0011` (115), `0110_0101` (101), `0111_0010` (114) e `1011_0001` (49, se removermos o bit de parada), que convertidos pela tabela ASCII nos dá o valor "User1". Agora é o momento de usar o Mapa de Presença, já que estamos lendo o campo "ID" e ele tem um operador que usa o Mapa. O Mapa de Presença que lemos anteriormente foi `100_0000` (com o bit de parada removido), então sim, o "ID" está presente nos dados de entrada. Nós lemos o próximo byte, `1000_0100`, que é "4". Mas tem uma pegadinha aqui: O campo é opcional. Então embora tenhamos lido "4", o valor de verdade é "3" -- se o valor lido fosse "0", significaria que o ID é Null. Beleza. Terminamos de ler o primeiro registro de "InnerSequence": O usuário "User1" tem ID "3" e pertence ao grupo "6868070". Agora vamos ler o segundo registro. Não precisamos ler o tamanho de novo, mas precisamos ler o Mapa de Presença deste registro. É o byte `1000_0000` um Mapa de Presença indicando que nenhum dos campos com operadores estão presentes. Mas, de novo, não é hora de usar o Mapa de Presença, porque nós temos que ler o "Username". Os bytes do campo são `0101_0101` (85), `0111_0011` (115), `0110_0101` (101), `0111_0010` (114) e `1011_0001` (50), que gera o valor "User2". O segundo registro tem um Mapa de Presença vazio (`1000_0000`) o que indica que o ID não está presente nos dados de entrada. Como o campo tem o operador Increment, nós precisamos pegar o valor anterior -- "3" -- e incrementar em 1> Assim, "User2" tem o ID "4". E assim termina o "InnerSequence" do primeiro regsitro do "OuterSequence". Agora mais rápido: - `1111_1111`: O segundo "GroupID" (que usa apenas um byte por causa do bit de parada), que é "127". - `1000_0001`: O tamanho do "InnerSequence"; apenas 1 elemento. - `1100_0000`: O Mapa de Presença do segundo registro de "InnerSequence"; significa que o "ID" está presente. - `0101_0101`, `1011_0001`: Username. "U1". - `1111_1111`: O valor de "ID" para o usuário "U1" é 126 (é lido "127", mas como o campo é opcional, o valor é decrementado em 1). - `0000_1000`, `1000_0000`: O terceiro "GroupID". Removendo os bits de parada e juntando os bits restantes temos `0000_1000 0000_0000`, que é "2048". - `1000_0010`: Tamanho da sequência "InnerSequence" do terceiro grupo; 2 elementos. - `1100_0000`: Mapa de Presença do primeiro registro de "InnerSequence"; ID está presente. - `1100_1001`: Username. "I". - `1011_0110`: "ID" para o usuário "I". 53. - `1000_0000`: Mapa de presença do segundo registro de "InnerSequence"; ID não está presente. - `0100_1101`, `1110_0101`: Username. "Me". - Agora não precisamos ler nada, pois o Mapa de Presença aponta que o ID não está presente, mas como o valor lido anteriormente para este campo foi "53", o ID para o usuário "Me" é "54". E como este era o último elemento de "InnerSequence", a sequência está completa; ainda, como este era o último elemento de "OuterSequence", a leitura terminou. --- Changelog: - 2022-01-17: Versão inicial.