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+++ title = "Python 2 + 3 = Six" date = 2016-11-21
[taxonomies] tags = ["python", "six", "python 2", "python 3", "tchelinux", "companion post"] +++
"Six" é uma pequena biblioteca Python que pode ajudar você a passar o seu código de Python 2 para Python 3.
{% note() %} (Esse post é relacionado com a apresentação que eu fiz no dia 19 de novembro no TchêLinux. Os slides podem ser encontrados na área de apresentações.) {% end %}
Antes de mais nada, uma coisa que precisamos responder é: Porque alguém usaria Python 3?
- Todas as strings são unicode por padrão; isso resolve a pilha de problemas
macabros, chatos, malditos, desgraçádos do
UnicodeDecodeError
; Mock
é uma classe padrão do Python; ainda é possível instalar usandopip
e a sintaxe é exatamente igual, mas é uma dependência a menos;Enum
é uma classe padrão do Python; Enum é um dos abusos mais interessantes de classes em Python e realmente útil;- AsyncIO e toda a parte de lazy-evaluation que o Python 3 trouxe; muita coisa no Python 3 deixou de ser "gerar uma lista" para ser um retorno de um iterador ou um generator; com AsyncIO, tem-se um passo a frente nessa idéia de geração lazy das coisas e, segundo pessoas mais inteligentes que eu, com PyUV, o Python consegue ser tão ou mais rápido que o Node;
- E, principalmente, o suporte ao Python 2 termina em 2020!
{% note() %}
Existe ainda a interpolação de strings com o novo identificador f
; a
funcionalidade é semelhante à chamada str.format
usando locals()
, por
exemplo, f'{element} {count}
é equivalmente à '{element} {count}'.format(locals())
(desde que você tenha element
e count
como
variáveis locais da sua função).
{% end %}
O último ponto é o mais importante. Você pode pensar "mas ainda tem três anos até lá", mas natal está chegando, daqui a pouco é carnaval e, quando menos se espera, é 2020.
O caminho para Python 3
Quem quiser já começar a portar seus aplicativos para Python 3, existem duas formas:
A primeira é executar seus aplicativos com python -3 [script]
; isso irá fazer
com que o interpretador Python avise quando qualquer instrução de código que
ele não consiga converter corretamente seja alertado. Eu executei um script
pessoal com data de 2003 e o
Python não apresentou nada.
{% note() %}
Apenas para fins de melhor elucidação: o código que eu estava gerando já estava
mais correto e seguindo os padrões mais pythônicos; em 2014 eu ainda estava
vendo casos em que código rodando em Python 2.6 ainda usava has_keys()
, que
foi deprecado no Python 2.3.
{% end %}
Existem vários motivos pra isso:
- As pessoas se acostumaram a escrever código "Pythonico"; a linguagem em si não sofreu grandes alterações.
- Apesar da linguagem Python ter algumas coisas removidas, essas foram
lentamente reintroduzidas na linguagem; um exemplo é o operador de
interpolação de strings (
%
) que havia sido removido em favor dostr.format
mas acabou voltando.
A segunda forma para portar seu código para Python 3 é usar a ferramenta
2to3
. Ela irá verificar as alterações conhecidas para Python 3 (por exemplo,
a transformação de print
para função, a alteração de alguns pacotes da STL)
e ira apresentar um patch para ser aplicado depois.
Entre as conversões que o 2to3
irá fazer, está a troca de chamadas de
iter
-alguma-coisa para a versão sem o prefixo (por exemplo,
iteritems()
irá se tornar simplesmente items()
); print
será
convertido para função; serão feitos vários ajustes nas chamadas das
bibliotecas urllib
e urlparse
(estas duas foram agrupadas no Python 3
e a primeira teve várias reorganizações internas); xrange
passa a ser
range
; raw_input
agora se chama input
e tem um novo tratamento de
saída, entre outros.
Existe apenas um pequeno problema nessa conversão de Python 2 para Python 3:
Como pode ser visto na lista acima, alguns comandos existem nas duas versões,
mas com funcionalidades diferentes; por exemplo, iteritems()
é convertido
para simplesmente items()
, mas os dois métodos existem em Python 2: o
primeiro retorna um iterador e o segundo retorna uma nova lista com as tuplas
de todos os elementos do dicionário (no caso do Python 3, é retornado um
iterador). Assim, apesar do código ser gramaticalmente igual tanto em Python 2
quanto Python 3, semanticamente os dois são diferentes.
Esse problema de "comandos iguais com resultados diferentes" pode ser um grande problema se o sistema está sendo executado em ambientes que não permitem modificação fácil -- por exemplo, o mesmo é executando num Centos 4 ou ainda necessita compabilidade com Python 2.6, ambos "problemas" sendo, na verdade, requisitos do grupo de infraestrutura.
Six (e __future__
) ao Resgate
Para resolver o problema de termos código que precisa executar nas duas versões, existe a biblioteca Six; ela faz o "meio de campo" entre Python 2 e Python 3 e fornece uma interface para que código Python 2 seja portado para Python 3 mantendo a compatibilidade.
Num exemplo (relativamente idiota):
import collections
class Model(object):
def __init__(self, word):
self._count = None
self.word = word
return
@property
def word(self):
return self._word
@word.setter
def word(self, word):
self._word = word
self._count = collections.Counter(word)
@property
def letters(self):
return self._count
def __getitem__(self, pos):
return self._count[pos]
if __name__ == "__main__":
word = Model('This is an ex-parrot')
for letter, count in word.letters.iteritems():
print letter, count
Nesse exemplo, temos uma classe que guarda uma frase e a quantidade de vezes
que cada letra aparece, utilizando Counter
para fazer isso (já que Counter
conta a quantidade de vezes que um elemento aparece em um iterável e strings
são iteráveis).
Nesse exemplo, temos os seguintes problemas:
-
class Model(object)
: em Python 3, todas as classes são "new class" e o uso doobject
não é mais necessário (mas não afeta o funcionamento da classe); -
for letter, count in word.letter.iteritems()
Conforme discutido anteriormente,iteritems()
deixou de existir e passou a seritems()
;items()
existe no Python 2, mas a funcionalidade é diferente. No nosso caso aqui, o resultado da operação continua sendo o mesmo, mas o consumo de memória irá subir cada vez que a chamada for feita. -
print leter, count
:print
agora é uma função e funciona levemente diferente da versão com Python 2.
Então, para deixar esse código compatível com Python 2 e Python 3 ao mesmo tempo, temos que fazer o seguinte:
class Model(object)
Não é preciso fazer nada.
print letter, count
from __future__ import print_function
print('{} {}'.format(letter, count))
print
como função pode ser "trazido do futuro" usando o módulo
__future__
(apenas disponível para Python 2.7); como a apresentação de
várias variáveis não é recomenando usando-se vírgulas, usar o
str.format
é a forma recomendada.
Uma opção melhor (na minha opinião) é:
from __future__ import print_function
print('{letter} {count}'.format(letter=letter
count=count))
Assim, os parâmetros usados na saída são nomeados e podem ser alterados.
Isto gera um erro estranho quando um nome usado na string de formato não
for passada na lista de parâmetros do format, mas em strings mais
complexas, o resultado é mais fácil de ser entendido (por exemplo, eu acho
mais fácil entender {letters} aparece {count} vezes
do que {} aparece {} vezes
; ainda, é possível mudar a ordem das variáveis na string de formato
sem precisar alterar a ordem na lista de parâmetros).
Uma opção melhor ainda é:
import six
six.print_('{letter} {count}'.format(letter=letter,
count=count))
Com Six, remove-se a dependência com __future__
e assim pode-se usar o
mesmo código em Python 2.6.
for letter, count in word.letters.iteritems():
import six
for letter, count in six.iteritems(word.letters):
Six provê uma interface unificada para iterador de itens tanto em Python 2
quanto Python 3: six.iteritems()
irá chamada iteritems()
se estiver
rodando em Python e items()
se estiver rodando com Python 3.
E, assim, nosso código relativamente idiota agora é compatível com Python 2 e Python 3 roda de forma idêntica nos dois.
Mas vamos para um exemplo real:
import urllib
import urlparse
def add_querystring(url, querystring, value):
frags = list(urlparse.urlsplit(url))
query = frags[3]
query_frags = urlparse.parse_qsl(query)
query_frags.append((querystring, value))
frags[3] = urllib.urlencode(query_frags)
return urlparse.urlunsplit(frags)
if __name__ == "__main__":
print add_querystring('http://python.org', 'doc', 'urllib')
print add_querystring('http://python.org?doc=urllib',
'page', '2')
{% note() %}
Sim, sim, o código poderia ser um simples "verificar se tem uma interrogação na
URL; se tiver, adicionar &
e a query string; se não tiver, adicionar ?
e a
query string". A questão é: dessa forma, eu consigo fazer uma solução que vai
aceitar qualquer URL, em qualquer formato, com qualquer coisa no meio porque as
bibliotecas do STL do Python vão me garantir que a mesma vai ser parseada
corretamente.
{% end %}
Esse é um código de uma função utilizada para adicionar uma query string em
uma URL. O problema com essa função é que tanto urlib
quanto urlparse
sofreram grandes modificações, ficando, inclusive, sob o
mesmo módulo (agora é tudo urllib.parse
).
Para fazer esse código ficar compatível com Python 2 e 3 ao mesmo tempo, é
preciso usar o módulo six.moves
, que contém todas essas mudanças de escopo
das bibliotecas da STL (incluindo, nesse caso, a urllib
e urlparse
).
import six
def add_querystring(url, querystring, value):
frags = list(six.moves.urllib.parse.urlsplit(url))
query = frags[3]
query_frags = six.moves.urllib.parse.parse_qsl(query)
query_frags.append((querystring, value))
frags[3] = six.moves.urllib.parse.urlencode(query_frags)
return six.moves.urllib.parse.urlunsplit(frags)
if __name__ == "__main__":
six.print_(add_querystring('http://python.org', 'doc', 'urllib'))
six.print_(add_querystring('http://python.org?doc=urllib',
'page', '2'))
O que foi feito, aqui, foi usar six.moves.urllib.parse
. Essa estrutura não
vêm por acaso: no Python 3, as funções de urlparse
agora se encontram em
urllib.parse
; Six assumiu que a localização correta para as funções dentro
"de si mesma" seriam os pacotes utilizados no Python 3.
E, assim, temos dois exemplos de programas que conseguem rodar de forma igual tanto em Python 3 quanto Python 2.
Ainda, fica a dica: Se houver algum software que você utiliza que não roda corretamente com Python 3, utilizar o Six pode ajudar a manter o código atual até que uma escrita resolva o problema.
Outras Perguntas
Como fica a questão de ficar sempre com o Six?
Boa parte das aplicações hoje botaram uma "quebra" do suporte às suas versões que rodam em Python 2. Por exemplo, Django anunciou que em 2020 vai sair a versão 2.0 do framework e essa versão vai suportar Python 3 apenas.
Quão difícil é portar para Python 3?
Não muito difícil -- agora. Muitas das coisas que foram removidas que davam dor
de cabeça na conversão retornaram; o caso mais clássico é o que operador de
interpolação de strings %
, que foi removido e teria que ser substituído por
str.format
, mas acabou retornando. Outro motivo é que os scripts são mais
"pythônicos" atualmente, muito por causa de gente como Raymond
Hettinger, que tem feito vídeos excelentes
de como escrever código em Python com Python (ou seja, código "pythônico"). E,
como anedota pessoal, eu posso comentar que meu código de 2003 rodou com
python -3
sem levantar nenhum warning.